Cultura não morde!
“Eu vezes eu / Espalhados em mim / Eu mínimo Múltiplo comum / Eu menos eu / Eu e eu outra vez / Nervo, músculo e osso.” (Titãs)
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Outro dia, fiquei pensando no mundo sem mim. Há o mundo continuando a fazer o que faz. E eu não estou lá. Muito estranho. Penso no caminhão do lixo passando e levando o lixo e eu não estou lá. Ou o jornal jogado no jardim e eu não estou lá para pegá-lo. Impossível. E pior, algum tempo depois de estar morto, vou ser verdadeiramente descoberto. E todos aqueles que tinham medo de mim ou me odiavam vão subitamente me aceitar. Minhas palavras vão estar em todos os lugares. Vão se formar clubes e sociedades. Será nojento. Será feito um filme sobre a minha vida. Me farão muito mais corajoso e talentoso do que sou. Muito mais. Será suficiente para fazer os deuses vomitarem. A raça humana exagera em tudo: seus heróis, seus inimigos, sua importância.
bukowski
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Chorando, quero impressionar alguém, fazer pressão sobre ele (“Veja o que você está fazendo comigo”). Pode ser - e é comumente - o outro que coagimos assim a assumir abertamente sua comiseração ou sua insensibilidade, mas pode ser também eu mesmo: obrigo-me a chorar para provar a mim mesmo que minha dor não é uma ilusão; as lágrimas são signos, não expressões. Por minhas lágrimas, como uma história, produzo um mito da dor, e assim posso acomodar-me a ela: posso conviver com ela, porque, chorando, dou-me um interlocutor enfático que recolhe a mais “verdadeira” das mensagens, a de meu corpo, não a de minha língua: “Palavras, que são palavras? Uma lágrima dirá bem mais”
(Schubert).
(Schubert).
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